3.3.09

USA News, crónica de um amigo americano, Fernando Sousa Marques : 2. A crise económica e financeira

Para além de diversas questões importantes que foram imediatamente abordadas por Obama logo que tomou posse (encerramento da prisão de Guantánamo, regulamentação das obrigações dos membros do gabinete impedidos que estão de participar em actividades de lobbying, informação on-line a todos os cidadãos das actividades do governo) o foco tem sido posto nas medidas de combate à crise : desemprego assustadoramente crescente (mais de 3 milhões de empregos perdidos no período de um ano); continuada crise no sector da habitação (sub-prime, especulação, etc) ; desastre em que se encontram as infraestruturas (estradas, pontes, maios de comunicação) ; calamidade na educação (principalmente nas escolas oficiais, completamente degradadas) ; sistema de saúde que deixa de fora dezenas de milhões de cidadãos, enquanto privilegia o escasso número de famílias que podem pagar, através do negócio das seguradoras e dos hospitais ; necessidades de investimento em sectores fundamentais (informática e comunicação, novas formas de energia, educação a todos os níveis) ; e, claro, suporte para um sistema financeiro que ruiu como baralho de cartas provocando um imenso e universal tsunami !

O pacote de medidas de início de reanimação da economia foi aprovado, com muita polémica à mistura e muita baixa política e muita ignorância e muita manipulação, com grande maioria na House of Representatives e a maioria necessaria no Senado (61 votos, num total de 100). Como o Partido Democrático tinha 58 Senadores eleitos (ainda faltava o tal senador de Minnesota) foi preciso que 3 Senadores do Partido Republicano votassem favoravelmente. Tudo isto depois de semanas de discussões, especulações, chantegens e ameaças. Finalmente o pacote foi aprovado. Cerca de 800 biliões de dólares !

Tudo isto irá conduzir ao agravamento acentuado da dívida externa americana que, no passado recente, tem tido a contribuição "generosa" dessa pátria da democracia que dá pelo nome de República Popular da China. Só que esta, por sua vez, a conta com crescentes problemas internos, já anunciou que os 600 biliões de dólares que tinha reservados para investir no estrangeiro seriam aplicados dentro do país e que, por outro lado, não compraria mais títulos da dívida pública americana.

Estamos, pois, perante um problema tradicional, desde que se inventaram as mantas e os cobertores. Tapa-se a cabeça, destapam-se os pés. Aquecem-se os pés, arrefecem os braços. Usa-se crédito e fica-se sem ele. Não se usa o crédito e morre-se de fome...

Assim vão os frutos do ultraliberalismo económico e financeiro e da desregulamentação e descontrolo iniciados na era Reagan e que arrastaram na sua queda parte importante do sistema financeiro global. Se houvesse alternativa à vista ainda se poderia desejar "paz à sua alma"... O problema é que, nos últimos anos, todo o mundo tem andado distraído com outros assuntos (o futebol, soccer, ou o futebol americano, o "terrorismo", o petróleo e os petro-dólares, as criancinhas que desaparecem, os acidentes de aviação ou comboio, os desastres, o crime organizado, o frio no inverno e o calor no verão, as enchentes e as secas, os incêndios, os casamentos das princesas da Hola, os filhos das artistas de cinema, etc), enquanto os comuns dos mortais tratam da sua própria e difícil sobrevivência...

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